sexta-feira, 16 de novembro de 2007
Onde surgiu ne como se expandiu
Essa grandiosidade é explicada pela situação histórica, marcada pela reação da Igreja Católica ao movimento protestante e ao mesmo tempo pelo desenvolvimento do regime absolutista. Dessa maneira temos uma arte diretamente comprometida com essa nova realidade, servindo como elemento de propaganda de seus valores.ser explicadas pelo fato de o barroco ter sido um tipo de expressão de cunho propagandista.
Nascido em Roma a partir das formas do cinquecento renascentista, logo se diversificou em vários estilos paralelos, à medida que cada país europeu o adotava e o adaptava às suas própria características. Enquanto na Itália o barroco apresentou elementos mais "pesados", nos países Protestantes o estilo encontrou componentes mais amenos.
Durante esse período as artes plásticas tiveram um desenvolvimento integrado; a arquitetura, principalmente das Igrejas, incorporaram os ornamentos da estatuária e da pintura.
Definição
O Barroco foi um período estilístico e filosófico da História da sociedade ocidental, ocorrido desde meados do século XVI até ao século XVIII. Foi inspirado no fervor religioso e na passionalidade da Contra-reforma. Didaticamente falando, o Período Barroco, vai de 1580 a 1756.
O termo Barroco advém da palavra portuguesa homónima que significa "pérola imperfeita", ou por extensão jóia falsa. A palavra foi rapidamente introduzida nas línguas francesa e italiana.
Contexto histórico
O Barroco ou Seiscentismo denomina todas as manifestações artísticas do século XVII e início do XVIII e, na literatura, é reflexo nítido de uma época profundamente angustiada. Nesse período, a Reforma de Lutero e Calvino dividiu os cristãos Europeus e, na tentativa de evitar a perda de fiéis, a Igreja Católica criou instituições florescentes na Península Ibérica, como o movimento da Contra-Reforma, que fundou a Companhia de Jesus e fortalece a Inquisição. Assim, enquanto a Europa evoluiu cientificamente, Portugal e Espanha permaneceram defensores da cultura medieval.
Além disso, de 1580 a 1640, Portugal, sob o jugo espanhol, enfrentou uma situação insuportável, o que propiciou um ambiente de pessimismo e desânimo, sobretudo, para a burguesia, que teve seu poder restringido pela submissão aos espanhóis e ao poder da Igreja - Contra-Reforma. A estética Barroca em Portugal resultou desse domínio, sofrendo, por conseqüência, grande influência espanhola, principal foco irradiador dessa estética.
Depois do domínio Espanhol, nos séculos XVII e XVIII, a nação portuguesa decaiu no cenário Europeu e sua literatura girou em torno de outras culturas: do barroquismo espanhol, do arcadismo italiano e do iluminismo francês, afetando a iniciante literatura colonial brasileira que passou a receber tendências estrangeiras.
A partir da segunda metade do século XVI, os ciclos de ocupação e exploração intensa e regular das possibilidades econômicas do Brasil-Colônia fizeram surgir núcleos urbanos de grande importância cultural e econômica na Bahia e Pernambuco. Mais tarde, século XVII, com a mudança da sede do governo para o Rio de Janeiro, esta firmou-se também como centro social, político e cultural.
As invasões estrangeiras, do Rio de Janeiro ao Maranhão, nos séculos XVI e XVII, foram responsáveis não só pelas transformações ocorridas no Nordeste mas também pelo despertar de uma consciência colonial, que se manifestou na literatura aqui realizada, através do sentimento de amor e interesse pelas nossas coisas, fatos e realidades. Ainda nesse século, essa região presenciou o auge e a decadência da cana-de-açúcar. No século XVIII, outros centros surgiram. Além de São Paulo, Vila Rica de Ouro Preto, em Minas Gerais, também desenvolveu-se econômica e culturalmente, devido ao descobrimento das jazidas de ouro. Durante esses séculos, o Brasil viveu sob forte pressão econômica, sobretudo pela intensa exploração de suas riquezas naturais que mantiveram a Corte.
Famílias brasileiras e portuguesas aqui radicadas, favorecidas por esse desenvolvimento, passaram a enviar seus filhos para os cursos superiores em Portugal. Esses estudantes, formados pela Universidade de Coimbra, foram os principais responsáveis pelas manifestações literárias européias que aqui surgiram. Ao retornarem contribuíram para o nosso desenvolvimento literário e reforçaram a mentalidade portuguesa entre nós.
Difusão do barroco
Rompendo os padrões estabelecidos pela escola classicista do Renascimento, surge em fins do século XVI uma nova tendência nas artes. É a escola denominada “Barroca”, enfática, violenta, agitada, que domina todo o século seguinte. Procura fundir elementos da arte gótica e renascentista, rompendo ao mesmo tempo os valores aceitos. Abandona o senso de equilíbrio geométrico, buscando despertar surpresa e emoções. Neste intuito, foi pesquisada a utilização de efeitos “Pictóricos”. Michelangelo é considerado por muitos precursor do barroco, pois já apresenta a força de expressão necessária para a obtenção de tais efeitos.
Por intermédio de complexos jogos especiais de luz e sombra, era obtido o contraste de diversos relevos de uma escultura. As proporções da figura humana, foram por vezes distorcidas para avivar a dramaticidade. Nesta linha, originam-se estilos particulares, influenciados por características regionais. O estudo da iluminação (luz e sombra) e da variedade de materiais utilizáveis no trabalho do escultor como preocupação central, a fim de que fossem obtidos os melhores efeitos, foi de uma importância determinante para os artistas dos séculos seguintes. Além de Michelangelo, Tintoretto e Ticiano também marcaram o início do barroco.
O novo estilo se definiu e se firmou, à atuação da Igreja Católica que teve seu prestígio abalado pela Reforma Protestante. O Concílio de Trento, dita normas para a arte religiosa, substituindo o humanismo renascentista pela busca dos valores sobrenaturais e religiosos. Embora tenha produzido excelentes obras no urbanismo e construção civil, o barroco se sobressai na arte religiosa.
Características
Sem encontrar explicações racionais para o mundo e com o fortalecimento da igreja católica, o século XVII retomou a religiosidade do período medieval e o antropocentrismo do século XVI, levando o pensamento humano a oscilar entre dois pólos opostos: Deus e o homem; espírito e matéria; céu e terra. Ao aproximar e relacionar idéias e sentimentos ou sensações contraditórias entre si, o Barroco reflete esse desequilíbrio e tensão.
Essa estética recebe nomes diferentes em outros países. Na Espanha, é Gongorismo, proveniente do poeta Luís Gôngora y Argote. Na Itália, chama-se Marinismo, devido à influência de Gianbattista Marini. Na Inglaterra, o romance Euphues ou The Anatomy of Wit, de John Lyly, dá origem ao Eufuísmo. Na França, denomina-se Preciosismo, graças à forma rebuscada na corte de Luís XIV. Na Alemanha, é conhecido por Silesianismo, caracterizando os escritores da região da Silésia.
Nessa estética, integrante do Período Colonial e sucessora do Quinhentismo, há um culto exagerado da forma. Na poesia, isso é feito através de malabarismos sintáticos e abuso de figuras, tais como metáforas, antíteses, paradoxos, metonímias, hipérboles, alegorias e simbolismos, resultando em um rebuscamento exagerado, a que os poetas do Arcadismo iriam se opor.
O barroco literário marca-se por dois estilos: o Cultismo e o Conceitismo. Enquanto, no Cultismo, os termos contrários manifestam sensações, no Conceitismo, eles são construídos e resolvidos através do confronto de idéias e de conceitos mais abstratos.
Para o artista barroco, efêmero e contingente, que deseja conciliar céu e terra, a duplicidade é a única atitude compatível, daí o uso de temas opostos: amor e dor, o erótico e o místico, o refinado e o grosseiro, o belo e o feio que se misturam, ressaltando o bizarro, e lembrando que a morte é o denominador comum de todas as aspirações humanas.
Além das características portuguesas, o barroquismo brasileiro apresenta peculiaridades próprias. A visão nativista na poesia, por exemplo, pode ser considerada pitoresca pelo tipo de louvor que faz ao país. Na lírica amorosa, a mulher é retratada pela sua beleza e perigo, sendo ao mesmo tempo enaltecida e exorcizada.
As manifestações literárias barrocas do Brasil-Colônia, de 1601 a 1768, têm como marco inicial a publicação do poema épico Prosopopéia, de Bento Teixeira. Na poesia, destaca-se também Gregório de Matos e, na prosa, sobressai-se a oratória sagrada dos jesuítas, cujo nome central é o do Padre Antônio Vieira.
O Estilo Barroco
O barroco foi o estilo que se manifestou em várias formas de arte na Europa ocidental e na América Latina, da metade do século XVI ao final do século XVII. A arte barroca é monumental, plena de detalhes dramáticos, dando origem, no século XVIII, a um estilo menos elaborado, chamado Rococó.
Contribuíram para a formação do estilo barroco três elementos da vida cultural da Europa ocidental. Primeiro, os artistas, a partir da segunda metade do século XVI, rebelaram-se contra a arte renascentista, que era contida e primava pela harmonia, simplicidade e equilíbrio simétrico. Os pintores, arquitetos e escultores barrocos conseguiram estabilizar-se em formas mais dramáticas e rebuscadas. Por exemplo, um arquiteto renascentista devia recorrer a elementos retangulares para alcançar perfeição e beleza. Os arquitetos barrocos, mais dramáticos, substituíram os elementos retangulares pelos curvos.
Em segundo lugar, muitos soberanos europeus pretendiam um estilo artístico que exaltasse seus reinos. Magníficos palácios barrocos, como Versalhes, na França, e o Zwinger, na Alemanha, expressaram o poder e a autoridade do chefe de Estado.
O terceiro elemento foi a Contra-Reforma nos séculos XVI (últimos anos) e XVII, que provocou um sentimento de exaltação religiosa em diversas partes da Europa. As igrejas barrocas representam o drama e a emoção desse movimento religioso.
Costuma-se definir o barroco europeu como a arte do esplendor. Há uma estreita relação entre o desenvolvimento desta e as riquezas (pedras e metais preciosos) das colônias recém-descobertas. Uma pequena minoria de pessoas abastadas da Itália, França, Inglaterra, Espanha e Países Baixos procurou apoiar artistas que refletissem em suas obras a opulência das grandes fortunas. No Brasil do século XVIII, a adoção do estilo barroco vincula-se certamente com o descobrimento de minas e a conseqüente riqueza de algumas camadas da população. O barroco brasileiro coincidiu com o nascimento da consciência nacional, ao mesmo tempo que a favoreceu. Contando com o apoio dos protetores das artes - paróquias, confrarias e associações religiosas - tornou-se a primeira possibilidade de expressão artística do país.
O período barroco
O ano de 1580 é significativo, marcado pela morte de Camões (e com ela, a decadência do movimento clássico), e pelo fim da autonomia política de Portugal, com o desaparecimento do rei D. Sebastião, na África, sendo que o seu sucessor foi Felipe II de Espanha, que anexou o reino português a seus domínios.
O capitólio político passou a ser Madrid, tendo Portugal perdido, além do seu foco político, o seu foco cultural. No século que se seguiu (século XVII), a influência predominante passou a ser a espanhola que se tornou marcante na cultura portuguesa e durante este mesmo período, brotam aos olhos da Espanha uma riquíssima geração de escritores, como Gôngora, Quevedo, Cervantes, Lopes de Vega e Calderón além de muitos outros.
Em 1640, Portugal inicia sua empreitada na reconquista de sua posição no cenário europeu, libertando-se do domínio espanhol, após D. João IV, da dinastia de Bragança, subir ao trono. Até 1668, muitas lutas correram, contra a Espanha, na defesa da independência e contra os holandeses, em busca de recuperar as colônias da África Ocidental e parte do Brasil.
Este foi um período de intensa agitação social, com esforços permanentes em busca do restabelecimento da vida econômica, política e cultural. Publicaram-se várias obras panfletárias clandestinas, que denotavam posição contrária a corrupção do Estado e a exploração do povo. A mais famosa e significativa é a Arte de Furtar, cuja autoria está atribuída desde 1941 ao Padre Manuel da Costa e é hoje praticamente incontestada (vide a indispensável edição crítica da obra por Roger Bismut, Imprensa Nacional, 1991).
Marquês de Pombal, ministro do rei D.José, subiu ao poder em 1750, com propostas renovadoras, que inauguraram uma nova fase na história cultural portuguesa. Em
No Brasil, o período foi marcado por novas diretrizes na política de colonização, e estabeleceram-se engenhos de cana-de-açúcar na Bahia. Salvador, como capital do Brasil, transformou-se em um núcleo populacional importante, e como consequência, um centro cultural que, mesmo timidamente, fez surgir grandes figuras, como Gregório de Matos. O Barroco Brasileiro teve início em 1601, tendo como obra significativa, Prosopopéia, de Bento Teixeira, terminando com as obras de Cláudio Manuel da Costa, em 1768, uma introdução ao Neoclassicismo.
O barroco foi desenvolvido no século XVII. Nesse período, o terror provocado pela inquisição pois tentava limitar pensamentos e manifestações culturais e impôr a austeridade.
Barroco europeu
A arte Barroca estendeu-se por todo o século XVII e pelas primeiras décadas do XVIII. Originou-se na Itália e não tardou a irradiar-se por outros países da Europa e a chegar também ao continente americano, trazida pelos colonizadores portugueses e espanhóis. O seu surgimento deve-se a uma séria de mudança econômicas, religiosas e sociais ocorridas na Europa. Com o humanismo, o Renascimento e, principalmente, a Reforma, a Igreja católica teve seu poder enfraquecido. O grande império cristão começou a se fragmentar em diversas religiões, pois a força da razão libertava o homem do autoritarismo. A igreja, para reconquistar seu prestígio e poder, organizou a Contra-Reforma, isto é, tomou iniciativas importantes que visavam reafirmar e difundir sua doutrina. É na construção e decoração das igrejas que nasce a arte Barroca. Arquitetos, escultores e pintores foram convocados para transformar igrejas em verdadeiras exibições artísticas, cujo esplendor tinha o propósito de converter ao catolicismo todas as pessoas.
PINTURA - Diferente do Renascimento, em que as figuras são apresentadas de forma estática como se tivessem posando para um retrato, no Barroco elas passam a ser apresentadas de forma teatral, isto é, parecem sempre
Principais pintores:
Caravaggio (italiano) o que melhor caracteriza a sua pintura é o modo revolucionário como ele usa a luz. Ela não aparece como reflexo da luz solar, mas é criada intencionalmente pelo artista, para dirigir a atenção do observador.
Andrea Pozzo (italiano) realizou grandes composições de perspectiva nas pinturas dos tetos das igrejas barrocas, causando a ilusão de que as paredes e colunas da igreja continuam no teto, e de que este se abre para o céu, de onde santos e anjos convidam os homens para a santidade.
A Itália foi o centro irradiador do estilo barroco. Dentre os pintores mais representativos, de outros países da Europa, temos:
Velázquez (espanhol) além de retratar as pessoas da corte espanhola do século XVII procurou registrar em seus quadros também os tipos populares do seu país, documentando o dia-a-dia do povo espanhol num dado momento da história. Rubens (holandês) um colorista vibrante, se notabilizou por criar cenas que sugerem, a partir das linhas contorcidas dos corpos e das pregas das roupas, um intenso movimento. Em seus quadros, é geralmente, no vestuário que se localizam as cores quentes - o vermelho, o verde e o amarelo - que contrabalançam a luminosidade da pele clara das figuras humanas.
Rembrandt (holandês) o que dirige nossa atenção nos quadros deste pintor não é propriamente o contraste entre luz e sombra, mas a gradação da claridade, os meios-tons, as penumbras que envolvem áreas de luminosidade mais intensa.
ESCULTURA - O Barroco escolhe a dramaticidade das expressões e o dinamismo dos movimentos como elementos básicos de seu espírito. Essas peculiaridades da escultura Barroca se concretizam através da predominância de linhas curvas, excesso de dobras nas vestes (panejamento) e a utilização do dourado. Como na pintura, o impacto inicial para esse desenvolvimento artístico partiu de artistas italianos, entre os quais GIAN LORENZO BERNINI foi o mais importante. Arquiteto, escultor, urbanista e pintor, Bernini tornou-se o principal artista da corte papal e de Roma. A escultura Barroca não decorou somente fachadas, portadas e interiores de igrejas e palácios. Ela também esteve presente nas construções e restaurações de fontes.
ARQUITETURA - A arquitetura Barroca realizou-se principalmente nos palácios e nas igrejas. A igreja católica queria proclamar o triunfo de sua fé e, por isso, realizou obras que impressionaram pelo seu esplendor. Em contrapartida, alguns governantes também desejaram palácios que demonstrassem poder e riqueza. Os arquitetos deixam de lado a simplicidade e racionalidade e insistem nos efeitos decorativos, pois "no Barroco todo muro se ondula e dobra para criar um novo espaço". É do período a valorização das cercanias imediatas da obras arquitetônica para a beleza da construção. Disso resultou a preocupação paisagística com os grandes jardins dos palácios, como em Versalhes e com a praça das igrejas, como a da Basílica de São Pedro. Principais arquitetos: Bernini, Francesco Borromini, Giacomo della Porta e Pietro da Cortona.
A introdução do Barroco em Portugal deve-se a dois fatores: à descoberta de ouro no Brasil, em 1681, e ao terremoto que destruíu Lisboa, em 1755. Lisboa foi reconstruída de forma majestosa por arquitetos do Barroco.
Barroco brasileiro
O estilo barroco desenvolveu-se plenamente no Brasil durante o século XVIII, perdurando ainda no início do século XIX. O barroco brasileiro é claramente associado à religião católica. Duas linhas diferentes caracterizam o estilo barroco brasileiro. Nas regiões enriquecidas pelo comércio de açúcar e pela mineração, encontramos igrejas com trabalhos em relevos feitos em madeira - as talhas - recobertas por finas camadas de ouro, com janelas, cornijas e portas decoradas com detalhados trabalhos de escultura. Já nas regiões onde não existia nem açúcar nem ouro, as igrejas apresentam talhas modestas e os trabalhos foram realizados por artistas menos experientes e famosos do que os que viviam nas regiões mais ricas.
O ponto culminante da integração entre arquitetura, escultura, talha e pintura aparece em Minas Gerais, sem dúvida a partir dos trabalhos de:
Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho - seu projeto para a igreja de São Francisco,
Características da escultura de Aleijadinho
* Olhos espaçados
* Nariz reto e alongado
* Lábios entreabertos
* Queixo pontiagud o
* Pescoço alongado em forma de V
Manuel da Costa Ataíde - suas pinturas em tetos das igrejas seguiam as características do estilo barroco, e aliavam-se perfeitamente às esculturas e arquitetura de Aleijadinho.
Obra Destacada: Pintura do Teto da Igreja de São Francisco de Assis.
*Para seu conhecimento:
Barroco Mineiro
Incentivado pela descoberta do ouro, estende-se por todo o país o gosto pelo barroco. Enquanto a Europa começava a desenvolver o Neoclassicismo, no século XVIII a arte colonial mineira não absorvia as mudanças e mantinha um barroco tardio e, por sua defasagem com o resto do mundo, tinha suas características singulares.
Minas Gerais, sendo um estado do Interior do Brasil, sofria as dificuldades de importação de materiais e técnicas construtivas. Estas características deram ao barroco mineiro um caráter peculiar e possibilitaram a criação de uma arte diferenciada, regionalista.
As características culturais e urbanas do povo mineiro, organizado em vilas, crendo em diversos santos, possibilitaram uma forma de expressão única, mesclada, muito mais do que somente pelo gosto artistico, com o estilo de vida, tornando estreito o relacionamento da arte com a fé e com a população, por meio da vivência e da visualização destes aspectos.
Muitos artistas trabalharam com as condições materiais da região, adaptando a arte ao modo de vida. Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, e Manuel da Costa Ataíde simbolizam claramente esta arte adaptada ao ambiente de um país tropical, ligando sua arte aos recursos e valores regionais. Ao trabalhar na Igreja de São Francisco de Assis, Aleijadinho substitui o mármore europeu pela pedra-sabão, Ataíde se baseia no "azulejo português" para criar suas pinturas. Absorvendo estes aspectos, o barroco desenvolvido em Minas Gerais ganha expressão particular no contexto brasileiro, firmando-se como um barroco peculiar, chamado de Barroco Mineiro.
Um exemplo clássico, que pode ser usado no estudo do Barroco Mineiro, são as igrejas mineiras construidas neste período que vai de 1710 a 1760.
1ª fase
Exemplo: Capela de Santana, Ouro Preto, Minas Gerais, 1720
2ª fase
Mais presente entre 1730 e 1760. Construções com excesso de motivos ornamentais, predominância de elementos escultóricos, coroamento com sanefas e falsos cortinados com anjos e revestimento com policromia em branco e dourado.
Exemplo: Matriz de Nossa Senhora do Pilar em Ouro Preto, Minas Gerais.
3ª fase
Muito presente no final do período Barroco a partir de 1760 Caracterizado por coroamento encimado por grande composição escultórica; elementos ornamentais baseados no estilo rococó francês, com conchas, laços, grinaldas e flores, revestimento com fundos brancos e douramentos nas partes principais da decoração.
Esta fase tem como característica, forte influência do estilo francês, dominante na Europa a partir da segunda metade do século XVIII. É uma particularidade do barroco no Brasil, a presença do rococó, por ter se desenvolvido paralelamente à sobrevivência do Barroco.
Exemplo: Igreja de São Francisco de Assis em Ouro Preto, Minas Gerais
Arte barroca
Embora tenha o Barroco assumido diversas características ao longo de sua história, seu surgimento está intimamente ligado à Contra-Reforma. A arte barroca procura comover intensamente o espectador. Nesse sentido, a Igreja converte-se numa espécie de espaço cênico, num teatro sacrum onde são encenados os dramas.
O Barroco é o estilo da Reforma católica também denominada de Contra-Reforma. Arquitetura, escultura, pintura, todas as belas artes, serviam de expressão ao Barroco nos territórios onde ele floresceu: a Espanha, a Itália, Portugal, os países católicos do centro da Europa e a América Latina.
O catolicismo barroco também impregnou a literatura, e uma das suas manifestações mais importantes e impressionantes foram os "autos sacramentais", peças teatrais de argumento teológico, reflexo do espírito espanhol do século XVII, e que eram muito apreciados pelo grande público, o que denota o elevado grau de instrução religiosa do povo.
Contrariamente à arte do Renascimento, que pregava o predomínio da razão sobre os sentimentos, no Barroco há uma exaltação dos sentimentos, a religiosidade é expressa de forma dramática, intensa, procurando envolver emocionalmente as pessoas.
Além da temática religiosa, os temas mitológicos e a pintura que exaltava o direito divino dos reis (teoria defendida pela Igreja e pelo Estado Nacional Absolutista que se consolidava) também eram freqüentes.
De certa maneira, assistimos a uma retomada do espírito religioso e místico da Idade Média, numa espécie de ressurgimento da visão teocêntrica do mundo. E não é por acaso que a arte barroca nasce em Roma, a capital do catolicismo.
A escola literária barroca é marcada pela presença constante da dualidade. Antropocentrismo versus teocentrismo, céu versus inferno, entre outras constantes.
Contudo, não há como colocar o Barroco simplesmente como uma retomada do fervor cristão. A sua grande diferença do período medieval é que agora o homem, depois do Renascimento, tem consciência de si e vê que também tem seu valor - com exemplos em estudos de anatomia e avanços científicos o homem deixa de colocar tudo nas mãos de Deus.
O Barroco caracteriza-se, portanto, num período de dualidades; num eterno jogo de poderes entre divino e humano, no qual não há mais certezas. A dúvida é que rege a arte deste período. E nas emoções o artista vê uma ponte entre os dois mundos, assim, tenta desvenda-las em suas representações.
Arquitetura Barroca
Na arquitetura barroca, a expressão típica são as Igrejas, construídas em grande quantidade durante o movimento de Contra-Reforma. Rejeitando a simetria do renascimento, destacam o dinamismo e a imponência, reforçados pela emotividade conseguida através de meandros, elementos contorcidos e espirais, produzindo diferentes efeitos visuais, tanto nas fachadas quanto no desenho dos interiores. Quanto à arquitetura sacra, compõe-se de variados elementos que pretendem dar o efeito de intensa emoção e grandeza. O teto elevado e elaborado com elementos de escultura dão uma dimensão do infinito; as janelas permitem a penetração da luz de modo a destacar as principais esculturas; as colunas transmitem uma impressão de poder e de movimento.
Quanto à arquitetura palaciana, o palácio barroco era construído em
três pavimentos. Os palácios, em vez de se concentrarem num só bloco cúbico, como os renascentistas, parecem estender-se sem limites sobre a paisagem, em várias alas, numa repetição interminável de colunas e janelas. A edificação mais representativa dessa época é o de Versalhes, manifestação messiânica das ambições absolutistas de Luís XIV, o Rei Sol, que pretendia, com essa obra, reunir ao seu redor - para desse modo debilitá-los - todos os nobres
poderosos das cortes de seu país.
A arquitetura barroca combinou de forma nova elementos clássicos e renascentistas, tais como colunas, arcos e capitéis. Elementos curvos, impetuosos, tomavam o lugar de elementos retangulares e harmônicos. A escultura e a pintura passaram a desempenhar um papel mais importante nos projetos das construções, contribuindo para criar ilusão de amplidão e espaço. O interesse pela harmonia entre prédios e ambiente conduziu a uma ênfase maior com relação ao planejamento da cidade e ao traçado das paisagens em grandes jardins.
Ornamentaram-se e elaboraram-se de modo especial as construções barrocas na Áustria, Espanha e América Latina. Na França, predominou um estilo mais clássico e ordenado. Entre os melhores arquitetos que desenvolveram o barroco, estão os italianos Gian Lorenzo Bernini e Francesco Borromini. No Brasil, essa arquitetura encontrou maior expressão
O Barroco e a Religião
Há um Concílio de Trento, uma grande reunião para assegurar a unidade de fé e a disciplina eclesiástica. A sua convocação surge no contexto da reação da igreja católica à divisão que se vive na Europa do séc. XVI quanto à apreciação da reforma protestante.
A contra-reforma. O Concílio de Trento foi o mais longo da história da Igreja: é chamado Concílio da contra-reforma. Emitiu numerosos decretos disciplinares, em oposição aos protestantes e estandardizou a missa através da igreja católica, abolindo largamente as variações locais. Regula também as obrigações dos bispos e confirma a presença de Cristo na eucaristia através de imagens. Definiu de uma forma explícita e intencional que a arte deve estar ao serviço dos ritos da igreja católica. São criticados pelos protestantes precisamente pelo uso das imagens sagradas por todo o lado, os quais tinham uma postura iconoclasta. Para o catolicismo, as imagens são elementos mediadores entre a humanidade e Deus. Para os teóricos da contra-reforma constitui um meio privilegiado de doutrina cristã e da história sagrada.
Principais artistas e obras da arquitetura barroca
Francesco Barromini, que entre muitas obras construiu em Roma o S. Carlo alle Quattro Fontanes. Surge aí a associação entre elementos retos e elementos curvos, utilizando formas ambivalentes, a fachada é visualmente dinâmica, que não deixa os espectadores parados. Exibe uma complexidade em termos de organização, côncava, convexa e retas, é este dinamismo que o barroco impõe. Cria-se um portal monumental, que joga com várias formas, desloca-se o sino para a zona da fonte, em vez da zona central, destacando assim também a importância da fonte, como elemento criativo e funcional integrado na arquitetura. Barromini foi ainda o autor de Sante Agnes e de Sante Andrea delle Frentte, ambas em Roma.
Em França, François Mansart, é um dos mais importantes arquitetos do classicismo barroco com obras tão importantes como Château de Maisons (hoje Maisons-Lafitte), a igreja do Val-de-Grâce e o Temple du Marais (estes dois últimos em Paris). Louis LeVau com o Château de Vaux-le-Vicomte, considerada como uma das influentes da época. A relação pátio-jardim é verdadeiramente revolucionária. Os jardins, projectados por André LeNôtre, deixam de ser um mero complemento do edifício e este ganha um prolongamento que vai para além da construção do Château em si. Os jardins de LeNôtre, sempre fortemente marcados pela axialidade, tocam, a partir do olhar do observador, no horizonte realizando o que o autor C. Norberg Schulz cahama de experiência de um espaço infinito. Jules Hardouin-Mansart é outro importante arquiteto do barroco, cujas obras mais importante são o Palácio de Versailles, em que a planta é elíptica e os jogos de luz criam contrastes visuais, a igreja de Saint-Louis des Invalides e o Grand-Trianon. Outro importante arquiteto françês, ainda que menos célebre, é Claude Perrault cuja fachada oriental que desenhou para o palácio do Louvre é um excelente exemplo da arquitetura barroca francesa. Em todo o espaço se cria uma multiplicidade cenográfica. O muro não é entendido como um limite, mas sim, uma realidade espacial privilegiada para conter movimento. Os efeitos volumétricos são essenciais como elementos na arquitetura Barroca.
A Escultura Barroca
A escultura barroca caracterizou-se pela idéia de grande atividade e movimento. Esta impressão foi criada pela combinação cuidadosa de massa e espaço, e o recurso a novos materiais, tais como estuque e gesso. Foram especialmente imaginativas as esculturas barrocas alemã e austríaca. Na Itália, Gian Lourenzo Bernini executou fontes e retábulos de altares, Os escultores do barroco brasileiro usaram quase sempre como material de trabalho a madeira e a pedra-sabão - abundante na região mineira -, criando belíssimos púlpitos, talhas em altares-mores, pedestais, nichos, pias batismais e imagens.
Por vários motivos, o clímax do desenho barroco pode ser visto na criação de vastos jardins, como os do palácio de Versalhes, onde o homem parecia ser o controlador absoluto da natureza. Os jardins barrocos realçaram o lado dramático do uso da água em cascatas, fontes e canais.
A Música Barroca
Como outras formas de arte barroca, a música caracterizou-se por pormenores e contrastes complexos. Está intimamente relacionada com a vida da Igreja e da corte. A música de cunho religioso tornou-se progressivamente dramática e secular. A ópera, com seus espetáculos elaboradamente encenados, desenvolveu-se primeiramente durante a época barroca. Entre os grandes compositores barrocos, incluem-se Cláudio Monteverdi e Alessandro Scarlatti, na Itália, e Johann Sebastian Bach e George F. Handel, na Alemanha.
A Pintura Barroca
No barroco, a pintura é inquietante e altamente espiritualizada. Os pintores barrocos enfatizaram novos e sugestivos métodos de composição. Usaram técnicas tais como figuras desproporcionais ante a perspectiva e desenhos que eram intencionalmente assimétricos. Esses artistas interessavam-se mais em captar a idéia de espaço e movimento do que apresentar formas individuais como a última perfeição. Miguel Ângelo, Caravaggio e Annibale Carraci foram pintores barrocos de grande nome. Petrus Paulus Rubens, de Flandres (hoje pertence à Bélgica), foi o líder da pintura barroca no norte. Os pintores espanhóis El Greco e Diego Valázquez acrescentaram elementos fortes e sombrios ao movimento. Como a arquitetura, a pintura barroca francesa do período conservou sobretudo qualidades clássicas, por exemplo nas obras de Nicolas Poussin e Claude -século XVII. No Brasil, destacam-se os trabalhos de Manuel da Costa Ataíde e Francisco Xavier Carneiro, em Minas Gerais, e as pinturas alegóricas de Pernambuco (Recife e Olinda), onde os temas religiosos se mesclavam a elementos profanos alusivos à invasão holandesa a às lutas contra os ocupantes.
A Pintura Barroca
No barroco, a pintura é inquietante e altamente espiritualizada. Os pintores barrocos enfatizaram novos e sugestivos métodos de composição. Usaram técnicas tais como figuras desproporcionais ante a perspectiva e desenhos que eram intencionalmente assimétricos. Esses artistas interessavam-se mais em captar a idéia de espaço e movimento do que apresentar formas individuais como a última perfeição. Miguel Ângelo, Caravaggio e Annibale Carraci foram pintores barrocos de grande nome. Petrus Paulus Rubens, de Flandres (hoje pertence à Bélgica), foi o líder da pintura barroca no norte. Os pintores espanhóis El Greco e Diego Valázquez acrescentaram elementos fortes e sombrios ao movimento. Como a arquitetura, a pintura barroca francesa do período conservou sobretudo qualidades clássicas, por exemplo nas obras de Nicolas Poussin e Claude -século XVII. No Brasil, destacam-se os trabalhos de Manuel da Costa Ataíde e Francisco Xavier Carneiro, em Minas Gerais, e as pinturas alegóricas de Pernambuco (Recife e Olinda), onde os temas religiosos se mesclavam a elementos profanos alusivos à invasão holandesa a às lutas contra os ocupantes.
Bento Teixeira
Nasceu no Porto, em 1545 e faleceu a 1605, as datas são imprecisas. Desde os escritos de Abade Machado, em sua "Biblioteca Lusitana", até os recentes trabalhos de Artur Mota, todos vieram repetindo o erro histórico de que este Bento Teixeira Pinto foi o primeiro poeta brasileiro.
Rodolfo Garcia na introdução que escreveu para o segundo volume de “Visitação do Santo Ofício às Partes do Brasil coleção provou que o poeta é simplesmente israelita do Porto”. Não é, portanto, brasileiro. Filho de Manuel Alvares de Barros e Lianor Rodrigues, cristãos-novos.
Emigrou com a família para a Bahia em cujo seminário se matriculou, andando de batina. Tendo-se revelado israelita fugiu para Pernambuco, desposando Filipa Raposa, vivendo como professor de gramática, latim e aritmética. Pelas acusações que lhe fizeram em 1591, na Bahia, e em 1593 em Olinda, era o homem mais culto e intelectualmente capaz em todo o Brasil. Por questões de adultério, assassinou a esposa, refugiando-se no mosteiro dos Beneditinos, graças ao direito de asilo, ainda vigente naquele tempo.
Quando se viu novamente acusado perante a Inquisição, compôs e dedicou ao governador de Pernambuco, Jorge de Albuquerque Coelho, o poema "Prosopopéia" que apareceu, em Lisboa, em 1601.
Várias obras lhe têm sido atribuídas; mas, certamente, só sabemos que escreveu o poema camoniano "Prosopopéia". Quanto à forma é pura imitação de Os Lusíadas, com versos inteiros, tirados de Camões. Quanto ao assunto, narra as peripécias de um naufrágio em que se encontrou Jorge de Albuquerque Coelho. Aproveita a oportunidade para fazer descrições da terra pernambucana. 0 seu grande mérito é todo histórico: foi o primeiro trabalho aqui feito com intuitos puramente literários.
Tudo em sua biografia, e em sua bibliografia é incerteza, escreve o crítico Múcio Leão. Julgam-no alguns pernambucano, mas corrente mais numerosa o considerava português
Rodolfo Garcia o identifica ao cristão novo que depõe nas denunciações de Pernambuco ao Santo Ofício e se diz natural do Porto, como se vê no livro da "Primeira Visitação do Santo Ofício às partes do Brasil".
Diogo Barbosa Machado, em sua "Biblioteca Lusitana" atribuiu-lhe a autoria de três obras: "Prosopopéia", "Relação do Naufrágio" e "Diálogos das Grandezas do Brasil".
Graças às investigações de Varnhagen, verificou-se que estas duas últimas obras, em prosa, não são da autoria de Bento Teixeira. "Relações do Naufrágio" foi escrita pelo piloto da nau Santo Antônio, Afonso Luís. Os "Diálogos" segundo demonstrou Capistrano de Abreu, são da autoria de Ambrósio Fernandes Brandão.
Ficará para Bento Teixeira - sujeito de maus princípios, uxoricida, segundo Rodolfo Garcia - apenas a insulsa "Prosopopéia", cujo valor, como obra de brasileiro, pouco ou nada tem de característico, a não ser o colorido de algumas paisagens nossas, como a do "Recife de Pernambuco".
Filho de cristãos-novos, veio com a família para o Brasil por volta de 1567, com destino à capitania do Espírito Santo, frequentando o colégio dos Jesuítas. Em 1576 foi para o Rio de Janeiro e em 1579 para a Bahia. Em 1583 vai para Ilhéus onde se casa com Filipa Raposa, cristã-velha.
Sem possibilidade de melhoria financeira, parte em 1584 para Olinda, abrindo aí a escola. Em 1588 vai para Igaraçu, dedicando-se ao magistério, à advocacia e ao comércio. Foi aí que a esposa começou a traí-lo sob pretexto de ele ser mau cristão e judeu. Foi aí também que blasfemou, sendo, em consequência, levado a auto-de-fé em 31 de julho de 1589, mas conseguindo a absolvição do ouvidor da Vara Eclesiástica. A 21 de janeiro de 1594 fez sua denúncia e confissão perante o Visitador do Santo Ofício,
Vida
Existem poucas e confusas informações sobre a vida de Bento Teixeira.
Sabe-se que estudou no Colégio da Bahia e que frequentou um seminário no mesmo estado, após ter vindo, com sua família, de Portugal (1567 (?)). Ao revelar que era judeu, teve que fugir para o estado do Pernambuco.
Na região pernambucana, começou a trabalhar como professor de aritmética, gramática e língua latina. Casou-se com Filipa Raposa, em 1584 (?), na cidade baiana de Ilhéus.
Alegando adultério, Bento Teixeiro assassinou sua própria esposa. Tal fato, o obrigou a fugir novamente, refugiando-se no Mosteiro de São Bento, em Olinda. Isso foi possível devido ao seu direito de asilo, que vigorava até então. Lá, escreveu sua obra-prima: Prosopopéia.
Outra versão diz que Bento Teixeira foi acusado pela esposa de ser judeu. O poeta teria sido julgado e absolvido pelo ouvidor da Vara Eclesiástica da Inquisição, em 1589. Intimado posteriormente pelo visitador do Santo Ofício, acabou confessando ser seguidor da religião judia. Irritado com a denúncia da esposa, a assassinou, se refugiando no mosteiro já citado. Localizado, foi preso e enviado para Lisboa, em 1595 (?), onde permaneceu até sua morte.Características literárias
Biografia
1545 -Nasceu no Porto, Bento Teixera Pinto
1567- a família redo autor transferiu-se para a capitania do Espírito Santo, na então colônia do Brasil
1584-casou-se com a cristã Filipa Raposa
1589-Acusado pela mulher de judeu e mau cristão, foi julgado e absolvido pelo ouvidor da Vara Eclesiástica da Inquisição
1589-depois de levado a auto-de-fé. Depois foi intimado pelo visitador do Santo Ofício, ao qual fez sua confissão
1594-assassinou a mulher
1595- Preso durante frustrada tentativa de fuga, foi enviado para Lisboa
1599-onde inicialmente negou, mas depois admitiu a crença e prática judaicas, que abjurou em auto-de-fé
1601-Na prisão em Lisboa, de onde não mais sairia vivo, o autor fez sua composição de elogio aos primeiros donatários de Pernambuco no poema épico Prosopopéia , considerada uma expressão pioneira do nativismo
1605- morre
Obra
Assim como sua biografia, são confusas as informações relativas as obras escritas por Bento Teixeira. Muitas foram lhe atribuídas. As principais são:
- Relações do naufrágio: De acordo com os estudos de Vernhagen, a obra é de autoria de Afonso Luís, piloto de uma nau chamada "Santo Antônio", citado em Prosopopéia.
- Diálogos das grandezas do Brasil: Segundo Capistrano de Abreu, a obra é de autoria de Ambrósio Fernandes Brandão.
Prosopopéia
Publicada em 1601, de grande valor histórico, a obra mais famosa do escritor é o poema épico, já citado, Prosopopéia. Nele, o escritor fala sobre a vida e o trabalho de Jorge de Albuquerque Coelho, terceiro donatário da Capitania de Pernambuco, e seu irmão, Duarte. É a única obra reconhecida e aceita como de sua autoria. Além disso, é a primeira obra com finalidade meramente literária publicada em solo brasileiro.
Escrito em oitava rima, com noventa e quatro estrofes, o poema marcou o início do movimento barroco no Brasil. Ao que parece, a obra foi influenciada pelo poema Os Lusíadas, de Camões. Tal influência é percebida quando analisada a sintaxe, principalmente.
Prólogo
Dirigido a Jorge d’Albuquerque Coelho, Capitão e Governador da Capitania de Paranambuco, das partes do Brasil da Nova Lusitânia, etc.
Se é verdade o que diz Horácio que Poetas e Pintores estão no mesmo predicamento; e estes pera pintarem perfeitamente uma Imagem, primeiro na lisa távoa fazem riscunho, pera depois irem pintando os membros dela extensamente, até realçarem as tintas, e ela ficar na fineza de sua perfeição; assim eu, querendo dibuxar com obstardo pinzel de meu engenho a viva Imagem da vida e feitos memoráveis de vossa mercê, quis primeiro fazer este riscunho, pera depois, sendo-me concedido por vossa mercê, ir mui particularmente pintando os membros desta Imagem, se não me faltar a tinta do favor de vossa mercê, a quem peço, humildemente, receba minhas Rimas, por serem as primícias com que tento servi-lo. E porque entendo que as aceitará com aquela benevolência e brandura natural, que custuma, respeitando mais a pureza do ânimo que a vileza do presente, não me fica mais que desejar, se não ver a vida de vossa mercê augmentada e estado prosperado, como todos os seus súbditos desejamos.
I
Cantem Poetas o Poder Romano,
Sobmetendo Nações ao jugo duro;
O Mantuano pinte o Rei Troiano,
Descendo à confusão do Reino escuro;
Que eu canto um Albuquerque soberano,
Da Fé, da cara Pátria firme muro,
Cujo valor e ser, que o Ceo lhe inspira,
Pode estancar a Lácia e Grega lira.
II
As Délficas irmãs chamar não quero,
que tal invocação é vão estudo;
Aquele chamo só, de quem espero
A vida que se espera em fim de tudo.
Ele fará meu Verso tão sincero,
Quanto fora sem ele tosco e rudo,
Que per rezão negar não deve o menos
Quem deu o mais a míseros terrenos.
III
E vós, sublime Jorge, em quem se esmalta
A Estirpe d'Albuquerques excelente,
E cujo eco da fama corre e salta
Do Cauro Glacial à Zona ardente,
Suspendei por agora a mente alta
Dos casos vários da Olindesa gente,
E vereis vosso irmão e vós supremo
No valor abater Querino e Remo.
IV
Vereis um sinil ânimo arriscado
A trances e conflictos temerosos,
E seu raro valor executado
Vereis seu Estandarte derribado
Aos Católicos pés victoriosos,
Vereis em fim o garbo e alto brio
Do famoso Albuquerque vosso Tio.
V
Mas
No Mar do valor vosso, abrir entrada,
Aspirai com favor a Barca leve
De minha Musa inculta e mal limada.
Invocar vossa graça mais se deve
Que toda a dos antigos celebrada,
Porque ela me fará que participe
Doutro licor milhor que o de Aganipe.
VI
O marchetado Carro do seu Febo
Celebre o Sulmonês, com falsa pompa,
E a ruína cantando do mancebo,
Com importuna voz, os ares rompa.
Que, posto que do seu licor não bebo,
À fama espero dar tão viva trompa,
Que a grandeza de vossos feitos cante,
Com som que Ar, Fogo, Mar e Terra espante
NARRAÇÃO
VII
A Lâmpada do Sol tinha encuberto,
Ao Mundo, sua luz serena e pura,
E a irmã dos três nomes descuberto
A sua tersa e circular figura.
Lá do portal de Dite, sempre aberto,
Tinha chegado, com a noite escura,
Morfeu, que com subtis e lentos passos
Atar vem dos mortais os membros lassos.
VIII
Tudo estava quieto e sossegado,
Só com as flores Zéfiro brincava,
E da vária fineza namorado,
De quando em quando o respirar firmava
Até que sua dor, d’amor tocado,
Per antre folha e folha declarava.
As doces Aves nos pendentes ninhos
Cubriam com as asas seus filhinhos.
IX
As luzentes Estrelas cintilavam,
E no estanhado Mar resplandeciam,
Que, dado que no Ceo fixas estavam,
Estar no licor salso pareciam.
Este passo os sentidos comparavam
Àqueles que d’amor puro viviam,
Que, estando de seu centro e fim absentes,
Com alma e com vontade estão presentes.
X
Quando ao longo da praia, cuja area
É de Marinhas aves estampada,
E de encrespadas Conchas mil se arrea,
Assim de cor azul, como rosada,
Do mar cortando a prateada vea,
Vinha Tritão em cola duplicada,
Não lhe vi na cabeça casca posta
(Como Camões descreve) de Lagosta
XI
Mas ô a Concha lisa e bem lavrada
De rica Madrepérola trazia,
e fino Coral crespo marchetada,
Cujo lavor o natural vencia.
Estava nela ao vivo debuxada
A cruel e espantosa bataria,
Que deu a temerária e cega gente
Aos Deoses do Ceo puro e reluzente.
XII
Um Búzio desigual e retrocido
Trazia por Trombeta sonorosa,
De Pérolas e Aljôfar guarnecido,
Com obra mui subtil e curiosa.
Depois do Mar azul ter dividido,
Se sentou nô a pedra Cavernosa,
E com as mãos limpando a cabeleira
Da turtuosa cola fez cadeira.
XIII
Toca a Trobeta com crescido alento,
Engrossa as veas, move os elementos,
E, rebramando os ares com o acento,
Penetra o vão dos infinitos assentos.
Os Pólos que sustem o firmamento,
Abalados dos próprios fundamentos,
Fazem tremer a terra e Ceo jucundo,
E Neptuno gemer no Mar profundo.
XIV
O qual vindo da vã concavidade,
Traz tão soberba pompa e majestade,
Quanta convém a Rei tão excelente.
Vem Oceano, pai de mor idade,
Com barba branca, com cerviz tremente:
Vem Glauco, vem Nereu, Deoses Marinhos,
Correm ligeros Focas e Golfinhos.
XV
Vem o velho Proteu, que vaticina
(Se fé damos à velha antiguidade)
Os males a que a sorte nos destina,
Nascidos da mortal temeridade.
Vem numa e noutra forma peregrina,
Mudando a natural propriedade.
Não troque a forma, venha confiado,
Se não quer de Aristeu ser sojigado.
XVI
Tétis, que em ser fermosa se recrea,
Traz das Ninfas o coro brando e doce :
Clímene, Efire, Ópis, Panopea,
Com Béroe, Talia, Cimodoce;
Drimo, Xanto, Licórias, Deiopea,
Aretusa, Cidipe, Filodoce,
Com Eristea, Espio, Semideas,
Após as quais, cantando, vem Sereas.
DESCRIPÇÃO DO RECIFE DE PARANAMBUCO
XVII
Pera a parte do Sul, onde a pequena
Ursa se vê de guardas rodeada,
Onde o Ceo luminoso mais serena
Tem sua influïção, e temperada;
Junto da Nova Lusitânia ordena
A natureza, mãe bem atentada,
Um porto tão quieto e tão seguro,
Que pera as curvas Naus serve de muro.
XVIII
É este porto tal, por estar posta
Uma cinta de pedra, inculta e viva,
Ao longo da soberba e larga costa,
Onde quebra Neptuno a fúria esquiva.
Antre a praia e pedra descomposta,
O estanhado elemento se diriva
Com tanta mansidão, que ô a fateixa
Basta ter à fatal Argos aneixa.
XIX
Em o meio desta obra alpestre e dura,
ô a boca rompeo o Mar inchado,
Que, na língua dos bárbaros escura,
Paranambuco de todos ‚ chamado.
de Para’na, que é Mar; Puca, rotura,
Feita com fúria desse Mar salgado,
Que, sem no dirivar cometer míngua,
Cova do Mar se chama em nossa língua.
XX
Pera entrada da barra, à parte esquerda,
Está ua lajem grande e espaçosa,
Que de Piratas fora total perda,
Se ô a torre tivera sumptuosa.
Mas quem por seus serviços bons não herda
Desgosta de fazer cousa lustrosa,
Que a condição do Rei que não é franco
O vassalo faz ser nas obras manco.
XXI
Sendo os Deoses à lajem já chegados,
Estando o vento em calma, o Mar quieto,
Depois de estarem todos sossegados,
Per mandado do Rei e per decreto,
Proteu, no Ceo cos olhos enlevados,
Como que invistigava alto secreto,
Com voz bem entoada e bom meneio,
Ao profundo silêncio larga o freio.
XXII
"Pelos ares retumbe o grave acento
De minha rouca voz, confusa e lenta,
Qual torvão espantoso e violento
De repentina e hórrida tormenta;
Ao Rio de Aqueronte turbulento,
Que em sulfúreas burbulhas arrebenta,
Passe com tal vigor, que imprima espanto
Em Minos riguroso e Radamanto.
XXIII
De lanças e d’escudos encantados
Não tratarei
Mais de Barões Ilustres afamados,
Mais que quantos a Musa não sublima.
Seus heróicos feitos extremados
Afinarão a dissoante prima,
Que não é muito tão gentil subjeito
Suplir com seus quilates meu defeito.
XXIV
Não quero no meu Canto algua ajuda
Das nove moradoras de Parnaso,
Nem matéria tão alta quer que aluda
Nada ao essencial deste meu caso.
Porque, dado que a forma se me muda,
Em falar a verdade serei raso,
Que assim convém fazê-lo quem escreve,
Se à justiça quer dar o que se deve.
XXV
A fama dos antigos coa moderna
Fica perdendo o preço sublimado:
A façanha cruel, que a turva Lerna
Espanta com estrondo d’arco armado:
O cão de três gargantas, que na eterna
Confusão infernal está fechado,
Não louve o braço de Hércules Tebano.
Pois procede Albuquerque soberano.
XXVI
Vejo (diz o bom velho) que, na mente,
O tempo de Saturno renovado,
E a opulenta Olinda florescente
Chegar ao cume do supremo estado.
Ser de fera e belicosa gente
O seu largo destricto povoado;
Por nome ter Nova Lusitânia,
Das Leis isenta da fatal insânia.
XXVII
As rédeas ter desta Lusitânia
O grão Duarte, valeroso e claro,
Coelho por cognome, que a insânia
Reprimir dos seus, com saber raro.
Outro Troiano Pio, que em Dardânia
Os Penates livrou e o padre caro;
Um Públio Cipião, na continência;
Outro Nestor e Fábio, na prudência.
XXVIII
O braço invicto vejo com que amansa
A dura cerviz bárbara insolente,
Instruindo na Fé, dando esperança
Do bem que sempre dura e ‚ presente;
Eu vejo co rigor da tesa lança
Acossar o Francês, impaciente
De lhe ver alcançar ua victória
Tão capaz e tão digna de memória.
XXIX
Ter o varão Ilustre da consorte,
Dona Beatriz, preclara e excelente,
Dous filhos, de valor e d’alta sorte.
Cada qual a seu Tronco respondente.
Estes se isentarão da cruel sorte,
Eclipsando o nome … Romana gente,
De modo que esquecida a fama velha
Façam arcar ao mundo a sobrancelha.
XXX
O Princípio de sua Primavera
Gastarão seu destricto dilatando,
Os bárbaros cruéis e gente Austera,
Com meio singular, domesticando.
E primeiro que a espada lisa e fera
Arranquem, com mil meios d’amor brando,
Pretenderão tirá-la de seu erro,
E senão porão tudo a fogo e ferro.
XXXI
Os braços vigorosos e constantes
Fenderão peitos, abrirão costados,
Deixando de mil membros palpitantes
Caminhos, arraiais, campos juncados;
Cercas soberbas, fortes repugnantes
Serão dos novos Martes arrasados,
Sem ficar deles todos mais memória
Que a qu’eu fazendo vou
XXXII
Quais dous soberbos Rios espumosos,
Que, de montes altíssimos manando,
Em Tétis de meter-se desejosos,
Vem com fúria crescida murmurando,
E nas partes que passam furiosos
Vem árvores e troncos arrancando,
Tal Jorge d’Albuquerque e o grão Duarte
Farão destruição em toda a parte.
XXXIII
Aquele branco Cisne venerando,
Que nova fama quer o Ceo que merque,
E me está com seus feitos provocando,
Que dele cante e sobre ele alterque;
Aquele que na Idea estou pintando,
Hierônimo sublime d’Albuquerque
Se diz, cuja invenção, cujo artifício
Aos bárbaros dar total exício.
XXXIV
Deste, como de Tronco florescente,
Nascerão muitos ramos, que esperança
Prometerão a todos geralmente
De nos berços do Sol pregar a lança.
Mas, quando virem que do Rei potente
O pai por seus serviços não alcança
O galardão devido e glória digna,
Ficarão nos alpendres da Piscina.
XXXV
Ó sorte tão cruel, como mudável,
Por que usurpas aos bons o seu direito?
Escolhes sempre o mais abominável,
Reprovas e abominas o perfeito,
O menos digno fazes agradável,
O agradável mais, menos aceito.
Ó frágil, inconstante, quebradiça,
Roubadora dos bens e da justiça!
XXXVI
Não tens poder algum, se houver prudência;
Não tens Império algum, nem Majestade;
Mas a mortal cigueira e a demência
Co título te honrou de Deïdade.
O sábio tem domínio na influência
Celeste e na potência da vontade,
E se o fim não alcança desejado,
É por não ser o meio acomodado.
XXXVII
Este meio faltará ao velho invicto,
Mas não cometerá nenhum defeito,
Que o seu calificado e alto esprito
Lhe fará a quanto deve ter respeito.
Aqui Balisário, e Pacheco aflicto,
Cerra com ele o número perfeito.
Sobre os três, ô a dúvida se excita:
Qual foi mais, se o esforço, se a desdita?
XXXVIII
Foi o filho de Anquises, foi Acates,
À região do Caos litigioso,
Com ramo d’ouro fino e de quilates,
Chegando ao campo Elíseo deleitoso.
Quão mal, por falta deste, a muitos trates
(Ó sorte!) neste tempo trabalhoso,
Bem claro no-lo mostra a experiência
Em poder mais que a justiça a aderência.
XXXIX
Mas deixando (dizia) ao tempo avaro
Cousas que Deos eterno e ele cura,
E tornando ao Preságio novo e raro,
Que na parte mental se me figura,
De Jorge d’Albuquerque, forte e claro,
A despeito direi da enveja pura,
Pera o qual monta pouco a culta Musa,
Que Meónio
XL
Bem sei que, se seus feitos não sublimo,
É roubo que 1he faço mui notável;
Se o faço como devo, sei que imprimo
Escândalo no vulgo variável.
Mas o dente de Zoilo, nem Minimo,
Estimo muito pouco, que agradável
É impossível ser nenhum que canta
Proezas de valor e glória tanta.
XLI
Uô a cousa me faz dificuldade
E o esprito profético me cansa,
A qual é ter no vulgo autoridade
Só aquilo a que sua força alcança.
Mas, se é um caso raro, ou novidade
Das que, de tempo em tempo, o tempo lança,
Tal crédito lhe dão, que me lastima
Ver a verdade o pouco que se estima."
XLII
E prosseguindo (diz: "que Sol luzente
Vem d’ouro as brancas nuvens perfilando,
Que está com braço indômito e valente
A fama dos antigos eclipsando;
Em quem o esforço todo juntamente
Se está como em seu centro tresladando?
É Jorge d'Albuquerque mais invicto
Que o que desceo ao Reino de Cocito.
XLIII
Depois de ter o Bárbaro difuso
E roto, as portas fechar de Jano,
Por vir ao Reino do valente Luso
E tentar a fortuna do Oceano."
Um pouco aqui Proteu, como confuso,
Estava receando o grave dano,
Que havia de acrescer ao claro Herói
No Reino aonde vive Cimotoe.
XLIV
"Sei mui certo do fado (prosseguia)
Que trará o Lusitano por designo
Escurecer o esforço e valentia
Do braço Assírio, Grego e do Latino.
Mas este pressuposto e fantasia
Lhe tirará de enveja o seu destino,
Que conjurando com os Elementos
Abalará do Mar os fundamentos.
XLV
Porque Lémnio cruel, de quem descende
A Bárbara progênie e insolência,
Vendo que o Albuquerque tanto ofende
Gente que dele tem a descendência,
Com mil meos ilícitos pretende
Fazer irreparável resistência
Ao claro Jorge, baroil e forte,
Em quem não dominava a vária sorte.
XLVI
Na parte mais secreta da memória,
Terá mui escripta. impressa e estampada
Aquela triste e maranhada História,
Com Marte, sobre Vênus celebrada.
Verá que seu primor e clara glória
Há de ficar em Lete sepultada,
Se o braço Português victória alcança
Da nação que tem nele confiança.
XLVII
E com rosto cruel e furibundo,
Dos encovados olhos cintilando,
Férvido, impaciente, pelo mundo
Andará estas palavras derramando":
- Pôde Nictélio só no Mar profundo
Sorver as Naus Meónias navegando,
Não sendo mor Senhor, nem mais possante
Nem filho mais mimoso do Tonante?
XLVIII
E pôde Juno andar tantos enganos,
Sem razão, contra Tróia maquinando,
E fazer que o Rei justo dos Troianos
Andasse tanto tempo o Mar sulcando?
E que vindo no cabo de dez anos,
De Cila e de Caríbdis escapando,
Chegasse à desejada e nova terra,
E co Latino Rei tivesse guerra?
XLIX
E pôde Palas subverter no Ponto
O filho de Oileu per causa leve?
Tentar outros casos que não conto
Por me não dar lugar o tempo breve?
E que eu por mil razões, que não aponto,
A quem do fado a lei render se deve,
Do que tenho tentado já desista,
E a gente Lusitana me resista?
L
Eu por ventura sou Deus indigete,
Nascido da progênie dos humanos,
Ou não entro no número dos sete,
Celestes, imortais e soberanos?
A quarta Esfera a mim não se comete?
Não tenho em meu poder os Centimanos?
Jove não tem o Ceo? O Mar, Tridente?
Plutão, o Reino da danada gente?
LI
Em preço, ser, valor, ou em nobreza,
Qual dos supremos é mais qu’eu altivo?
Se Neptuno do Mar tem a braveza,
Eu tenho a região do fogo activo.
Se Dite aflige as almas com crueza,
E vós, Ciclopes três, com fogo vivo,
Se os raios vibra Jove, irado e fero,
Eu na forja do monte lhos tempero.
LII
E com ser de tão alta Majestade,
Não me sabem guardar nenhum respeito?
E um povo tão pequeno em quantidade
Tantas batalhas vence a meu despeito?
E que seja agressor de tal maldade
O adúltero lascivo do meu leito?
Não sabe que meu ser ao seu precede,
E que prendê-lo posso noutra rede?
LIII
Mas seu intento não porá no fito,
Por mais que contra mim o Ceo conjure,
Que tudo tem em fim termo finito,
E o tempo não há cousa que não cure.
Moverei de Neptuno o grão districto
Pera que meu partido mais segure,
E quero ver no fim desta jornada
Se val a Marte escudo, lança, espada.
LIV
"Estas palavras tais, do cruel peito,
Soltará dos Ciclopes o tirano,
As quais procurará pôr em efeito,
Às cavernas descendo do Oceano.
E com mostras d’amor brando e aceito,
De ti, Neptuno claro e soberano,
Alcançará seu fim: o novo jogo,
Entrar no Reino d’Água o Rei do fogo.
LV
Logo da Pátria Eólia virão ventos,
Todos como esquadrão mui bem formado,
Euro, Noto os Marítimos assentos
Terão com seu furor demasiado.
Fará natura vários movimentos,
O seu Caos repetindo já passado,
De sorte que os varões fortes e válidos
De medo mostrarão os rostos pálidos.
LVI
Se Jorge d’Albuquerque soberano,
Com peito juvenil, nunca domado,
Vencerá da Fortuna e Mar insano
A braveza e rigor inopinado,
Mil vezes o Argonauta desumano,
Da sede e cruel fome estimulado,
Urdirá aos consortes morte dura,
Pera dar-lhes no ventre sepultura.
LVII
E vendo o Capitão calificado
Empresa tão cruel e tão inica,
Per meio mui secreto, acomodado,
Dela como convém se certifica.
E, dô a graça natural ornado,
Os peitos alterados edifica,
Vencendo, com Tuliana eloqüência,
Do modo que direi, tanta demência."
LVIII
- Companheiros leais, a quem no Coro
Das Musas tem a fama entronizado,
Não deveis ignorar, que não ignoro,
Os trabalhos que haveis no Mar passado.
Respondestes ‘te ‘gora com o foro,
Devido a nosso Luso celebrado,
Mostrando-vos mais firmes contra a sorte
Do que ela contra nós se mostra forte.
LIX
Vós de Cila e Caríbdis escapando,
De mil baixos e sirtes arenosas,
Vindes num lenho côncavo cortando
As inquietas ondas espumosas.
Da fome e da sede o rigor passando,
E outras faltas em fim dificultosas,
Convém-vos aquirir ô a força nova,
Que o fim as cousas examina e prova.
LX
Olhai o grande gozo e doce glória
Que tereis quando, postos em descanso,
Contardes esta larga e triste história,
Junto do pátrio lar, seguro e manso.
Que vai da batalha a ter victória,
O que do Mar inchado a um remanso,
Isso então haverá de vosso estado
Aos males que tiverdes já passado.
LXI
Per perigos cruéis, per casos vários,
Hemos d’entrar no porto Lusitano,
E suposto que temos mil contrários
Que se parcialidam com Vulcano,
De nossa parte os meios ordinários
Não faltem, que não falta o Soberano,
Poupai-vos pera a próspera fortuna,
E, adversa, não temais por importuna.
LXII
Os heróicos feitos dos antigos
Tende vivos e impressos na memória:
Ali vereis esforço nos perigos,
Ali ordem na paz, digna de glória.
Ali, com dura morte de inimigos,
Feita imortal a vida transitória,
Ali, no mor quilate de fineza,
Vereis aposentada a Fortaleza.
LXIII
Agora escurecer quereis o raio
Destes Barões tão claros e eminentes,
Tentando dar princípio e dar ensaio
A cousas temerárias e indecentes.
Imprimem neste Peito tal desmaio
Tão graves e terríbeis acidentes
Que a dor crescida as forças me quebranta,
E se pega a voz débil à garganta.
LXIV
De que servem proezas e façanhas,
E tentar o rigor da sorte dura?
Que aproveita correr terras estranhas,
Pois faz um torpe fim a fama escura?
Que mais torpe que ver uas entranhas
Humanas dar a humanos sepultura,
Cousa que a natureza e lei empede,
E escassamente às Feras só concede.
LXV
Mas primeiro crerei que houve Gigantes
De cem mãos, e da Mãe Terra gerados,
E Quimeras ardentes e flamantes,
Com outros feros monstros encantados;
Primeiro que de peitos tão constantes
Veja sair efeitos reprovados,
Que não podem (falando simplesmente)
Nascer trevas da luz resplandecente.
LXVI
E se determinais a cega fúria
Executar de tão feroz intento,
A mim fazei o mal, a mim a injúria,
Fiquem livres os mais de tal tormento.
Mas o Senhor que assiste na alta Cúria
Um mal atalhará tão violento,
Dando-nos brando Mar, vento galerno,
Com que vamos no Minho entrar paterno.
LXVII
"Tais palavras do peito seu magnânimo
Lançará o Albuquerque famosíssimo,
Do soldado remisso e pusilânimo,
Fazendo com tal práctica fortíssimo.
E assim todos concordes, e num ânimo,
Vencerão o furor do Mar bravíssimo,
Até que já a Fortuna, d’enfadada,
Chegar os deixe a Pátria desejada.
LXVIII
À Cidade de Ulisses destroçados
Chegarão da Fortuna e Reino salso,
Os Templos visitando Consagrados,
Em procissão, e cada qual descalço.
Desta maneira ficarão frustrados
Os pensamentos vãos de Lémnio falso,
Que o mau tirar não pode o benefício
Que ao bom tem prometido o Ceo propício.
LXIX
Neste tempo Sebasto Lusitano,
Rei que domina as águas do grão Douro,
Ao Reino passará do Mauritano,
E a lança tingirá
O famoso Albuquerque, mais ufano
Que Iason na conquista do veo d’ouro,
E seu Irmão, Duarte valeroso,
Irão co Rei altivo, Imperioso.
LXX
Nô a Nau, mais que Pístris, e Centauro,
E que Argos venturosa celebrada,
Partirão a ganhar o verde Lauro
À região da secta reprovada.
E depois de chegar ao Reino Mauro,
Os dous irmãos, com lança e com espada,
Farão nos Agarenos mais estrago
Do que em Romanos fez o de Cartago.
LXXI
Mas, ah! ínvida sorte, quão incertos
São teus bens e quão certas as mudanças;
Quão brevemente cortas os enxertos
A ô as mal nascidas esperanças.
Nos mais riscosos trances, nos apertos,
Antre mortais pelouros, antre lanças,
Prometes triunfal palma e victória,
Pera tirar no fim a fama, a glória.
LXXII
Assim sucederá nesta batalha
Ao mal afortunado Rei ufano,
A quem não valerá provada malha,
Nem escudo d’obreiros de Vulcano.
Porque no tempo que ele mais trabalha
Victória conseguir do Mauritano
Num momento se vê cego e confuso,
E com seu esquadrão roto e difuso".
LXXIII
Anteparou aqui Proteu, mudando
As cores e figura monstruosa,
No gesto e movimento seu mostrando
Ser o que há de dizer cousa espantosa.
E com nova eficácia começando
A soltar a voz alta e vigorosa,
Estas palavras tais tira do peito,
Que é cofre de profético conceito:
LXXIV
"Antre armas desiguais, antre tambores
De som confuso, rouco e redobrado,
Antre cavalos bravos corredores,
Antre a fúria do pó, que é salitrado;
Antre sanha, furor, antre clamores,
Antre tumulto cego e desmandado,
Antre nuvens de setas Mauritanas,
Andará o Rei das gentes Lusitanas.
LXXV
No animal de Neptuno, já cansado
Do prolixo combate, e mal ferido,
Será visto por Jorge sublimado,
Andando quási fora de sentido.
O que vendo o grande Albuquerque ousado,
De tão trágico passo condoído,
Ao peito fogo dando, aos olhos água,
Tais palavras dirá, tintas em magoa":
LXXVI
- Tão infelice Rei, como esforçado,
Com lágrimas de tantos tão pedido,
Com lágrimas de tantos alcançado,
Com lágrimas do Reino, em fim perdido.
Vejo-vos co cavalo já cansado,
A vós, nunca cansado, mas ferido,
Salvai em este meu a vossa vida,
Que a minha pouco vai em ser perdida.
LXXVII
Em vós do Luso Reino a confiança
Estriba, como em base só, fortíssimo;
Com vós ficardes vivo, segurança
Lhe resta de ser sempre florentíssimo.
Antre duros farpões e Maura lança,
Deixai este vassalo fidelíssimo,
Que ele fará por vós mais que Zopiro
Por Dario, até dar final suspiro.
LXXVIII
"Assim dirá o Herói, e com destreza
Deixará o genete velocíssimo,
E a seu Rei o dará: Ó Portuguesa
Lealdade do tempo florentíssimo!
O Rei Promete, se de tal empresa
Sai vivo, o fará senhor grandíssimo,
Mas ‘te nisto lhe será avara a sorte,
Pois tudo cubrirá com sombra a morte.
LXXIX
Com lágrimas d’amor e de brandura,
De seu Senhor querido ali se espede,
E que a vida importante e mal segura
Assegurasse bem, muito lhe pede,
Torna à batalha sanguinosa e dura,
O esquadrão rompe dos de Mafamede,
Lastima, fere, corta, fende, mata,
Decepa, apouca, assola, desbarata.
LXXX
Com força não domada e alto brio,
Do seu vendo correr um caudal Rio,
De giolhos se pôs, debilitado.
Ali dando a mortais golpes desvio,
De feridas medonhas trespassado,
Será captivo, e da proterva gente
Maniatado em fim mui cruelmente.
LXXXI
Mas adonde me leva o pensamento?
Bem parece que sou caduco e velho,
Pois sepulto no Mar do esquecimento
A Duarte sem par, dicto Coelho.
Aqui mister havia um novo alento
Do Poder Divinal e alto Conselho,
Porque não hai quem feitos tais presuma
A termo reduzir e breve suma.
LXXXII
Mas se o Ceo transparente e alta Cúria
Me for tão favorável, como espero,
Com voz sonora, com crescida fúria,
Hei de cantar Duarte e Jorge fero.
Quero livrar do tempo e sua injúria
Estes claros irmãos, que tanto quero,
Mas, tornando outra vez a triste História,
Um caso direi digno de memória.
LXXXIII
Andava o novo Marte destruindo
Os esquadrões soberbos Mauritanos,
Quando sem tino algum viu ir fugindo
Os tímedos e lassos Lusitanos.
O que de Pura mágoa não sufrindo
Lhe diz"; - Donde vos is, homens insanos?
Que digo: homens, estátuas sem sentido,
Pois não sentis o bem que haveis perdido?
LXXXIV
Olhai aquele esforço antigo e puro
Dos ínclitos e fortes Lusitanos,
Da Pátria e liberdade um firme muro
Verdugo de arrogantes Mauritanos;
Exemplo singular pera o futuro
Dictado, e resplandor de nossos anos,
Subjeito mui capaz, matéria digna
Da Mantuana e Homérica Buzina.
LXXXV
Ponde isto por espelho, por treslado,
Nesta tão temerária e nova empresa.
Nele vereis que tendes já manchado
De vossa descendência a fortaleza.
À batalha tornai com peito ousado,
Militai sem receo, nem fraqueza,
Olhai que o torpe medo é Crocodilo
Que custuma, a quem foge, persegui-lo.
LXXXVI
E se o dito a tornar vos não compele,
Vede donde deixais o Rei sublime?
Que conta haveis de dar ao Reino dele?
Que desculpa terá, tão grave crime?
Quem haverá que por traição não sele
Um mal que tanto mal no mundo imprime?
Tornai, tornai, invictos Portugueses,
Cerceai malhas e fendei arneses.
LXXXVII
"Assim dirá: mas eles sem respeito
À honra e ser de seus antepassados
Com pálido temor no frio peito,
Irão per várias partes derramados.
Duarte, vendo neles tal defeito,
Lhe dirá": - Corações efeminados,
Lá contareis aos vivos o que vistes,
Porque eu direi aos mortos que fugistes.
LXXXVIII
"Neste passo carrega a Maura força
Sobre o Barão insigne e velicoso;
Ele, onde vê mais força, ali se esforça,
Mostrando-se no fim mais animoso.
Mas o fado, que quer que a razão torça.
O caminho mais recto e proveitoso,
Fará que num momento abreviado
Seja captivo, preso e mal tratado.
LXXXIX
Eis ambos os irmãos em captiveiro.
De Peitos tão protervos e obstinados,
Por cópia inumerável de dinheiro
Serão (segundo vejo) resgatados.
Mas o resgate e preço verdadeiro,
Por quem os homens foram libertados,
Chamará neste tempo o grão Duarte,
Pera no claro Olimpo lhe dar parte.
XC
Ó Alma tão ditosa como pura,
Parte a gozar dos dotes dessa glória,
Donde terás a vida tão segura,
Quanto tem de mudança a transitória!
Goza lá dessa luz que sempre dura;
No mundo gozarás da larga história,
Ficando no lustroso e rico Templo
Da Ninfa Gigantea por exemplo.
XCI
Mas, enquanto te dão a sepultura,
Contemplo a tua Olinda celebrada,
Cuberta de fúnebre vestidura,
Inculta, sem feição, descabelada.
Quero-a deixar chorar morte tão dura
‘Té que seja de Jorge consolada,
Que por ti na Ulissea fica em pranto,
Em quanto me disponho a novo Canto.
XCII
Não mais, esprito meu, que estou cansado,
Deste difuso, largo e triste Canto,
Que o mais será de mim depois cantado
Per tal modo, que cause ao mundo espanto.
Já no balcão do Ceo o seu toucado
Solta Vênus, mostrando o rosto Sancto;
Eu tenho respondido co mandado
Que mandaste Neptuno sublimado".
XCIII
Assim diz; e com alta Majestade
O Rei do Salso Reino, ali falando,
Diz: - Em satisfação da tempestade
Que mandei a Albuquerque venerando,
Pretendo que a mortal Posteridade
Com Himnos o ande sempre sublimando,
Quando vir que por ti o foi primeiro,
Com fatídico esprito verdadeiro.
XCIV
Aqui deu [fim] a tudo, e brevemente
Entra no Carro [de] Cristal lustroso;
Após dele a demais Cerúlea gente
Cortando a vea vai do Reino acoso.
Eu que a tal espetáculo presente
Estive, quis em Verso numeroso
Escrevê-lo por ver que assim convinha
Pera mais Perfeição da Musa minha.
-FIM-